14 de julho de 2014

Homenagem a Pablo Neruda


Em homenagem aos 110 anos de nascimento de Pablo Neruda (12 de julho de 1904 - 23 de setembro de 1973).

A todas as vidas do poeta...

"Mi vida es una vida hecha de todas las vidas: las vidas del poeta" (Confieso que he vivido, 1974)


Unidad

Hay algo denso, unido, sentado en el fondo,
repitiendo su número, su señal idéntica.
Cómo se nota que las piedras han tocado el tiempo,
en su fina materia hay olor a edad,
y el agua que trae el mar, de sal y sueño.

Me rodea una misma cosa, un solo movimiento:
el peso del mineral, la luz de la miel,
se pegan al sonido de la palabra noche:
la tinta del trigo, del marfil, del llanto,
envejecidas, desteñidas, uniformes,
se unen en torno a mí como paredes.

Trabajo sordamente, girando sobre mí mismo,
como el cuervo sobre la muerte, el cuervo de luto.
Pienso, aislado en lo extremo de las estaciones,
central, rodeado de geografía silenciosa:
una temperatura parcial cae del cielo,
un extremo imperio de confusas unidades
se reúne rodeándome.


Pablo Neruda 
(Residencia en la tierra, 1933)


Unidade

Existe algo denso, sentado no fundo,
repetindo seu número, seu sinal idêntico.
Quanto se nota que as pedras tocaram o tempo,
em sua fina matéria há o cheiro de idade,
e a água que traz o mar, de sal e sonho.

Me rodeia uma mesma coisa, um só movimento:
o peso do mineral, a luz da pele,
se colam ao som da palavra noite:
a tinta do trigo, do marfim, do pranto,
as coisas de couro, de madeira, de lã,
envelheidas, desbotadas, uniformes,
se unem a meu redor como paredes.

Trabalho surdamente, girando sobre mim mesmo,
como o corvo sobre a morte, o corvo de luto.
Penso, asilado no extenso das estações,
central, rodeado de geografia silenciosa:
uma temperatura parcial cai do céu,
um extremo império de confusa unidades
se reúne me rodeando.

Tradução de Thiago de Mello
(Poetas da América de canto castelhano, 2011)


4 comentários:

  1. Minha homenagem que postei na minha página do Facebook ontem:

    SONETO XVII
    Pablo Neruda

    Não te amo como se fosses rosa de sal ou topázio,
    ou as setas de cravos que saem do fogo.
    Te amo como certas coisas obscuras devem ser amadas,
    em segredo, entre a sombra e alma.

    Te amo como um botão que nunca se abre,
    mas carrega em si a luz das flores escondidas;
    graças ao teu amor, uma certa fragrância,
    que se eleva da terra, vive secretamente em mim.

    Te amo sem saber como, ou quando, ou de onde.
    Amo-te de forma direta, sem complexidade ou orgulho,
    então te amo, porque não conheço outro modo senão este:

    onde nem eu nem tu existimos, tão próximos,
    que tua mão em meu peito se confunde com a minha mão,
    tão juntos que teus olhos se fecham quando adormeço.

    In "Cem sonetos de amor" (1959).
    Tradução de Thereza Rocque da Motta.

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  2. Quero deixar também minha contribuição, embora seja de Cortázar e sejam 10:45. Eu li no Corujão.

    "A árvore, o rio, o homem"
    Versão traduzida: Luiz Ribas e Jandir Santin

    A árvore já cortada
    não a crave na terra
    porque sua copa seca
    não enganará os pássaros

    O rio que corre
    não lhe levante diques
    porque no ar livre
    cavalgarão as nuvens

    Ao homem desterrado
    não lhe fale de sua casa
    À verdadeira pátria
    Caro está pagando

    A árvore já cortada
    O rio que corre
    O homem desterrado
    Caro estão pagando

    De tanto viver entre pedras
    Eu cria que conversavam
    Vozes não as senti nunca
    Mas a alma não me engana

    Algum "algo" hão de ter
    Ainda que pareçam caladas
    Não de balde tem enchido deus
    de segredos a montanha

    Algo se dizem as pedras
    A mim não me engana a alma
    Tremor, sombra ou que sei eu!
    Igual que se conversavam

    Oxalá pudera um dia
    Viver assim: sem palavras



    "El árbor, el río, el hombre"

    Al árbol ya cortado
    no lo claves en tierra
    porque su copa seca
    no engañará a los pájaros

    Al río que discurre
    No le levantes diques
    Porque en el aire libre
    Cabalgarán las nubes

    Al hombre desterrado
    No le hables de su casa
    La verdadera patria
    Caro la está pagando

    El árbol ya cortado
    El río que discurre
    El hombre desterrado
    Caro lo están pagando

    Tanto vivir entre piedras
    Yo creí que conversaban
    Voces no he sentido nunca
    Pero el alma no me engaña

    Algún "algo" han de tener
    Aunque parezcan calladas
    No de balde ha llenau dios
    De secretos la montaña

    Algo se dicen las piedras
    A mi no me engaña el alma
    Temblor, sombra o que se que yo!
    Igual que si conversaran

    Malaya pudiera un día
    Vivir así: sin palabras


    Poema de Julio Cortázar "El árbor, el río, el hombre", mais letra de Atahualpa Yupanqui "Las piedras"; música “El Testamento de Amelia” melodía anónima catalana; interpretado por Atahualpa Yupanqui.

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